quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas

por Carolina Martins


São quase duas horas e meia de um drama que consegue tirar qualquer um da inércia mental. A adaptação do livro, “The Help”, de Kathryn Stockett, dirigida por Tate Taylor, mostra o estado de Mississipi na década de 1960, no auge da segregação racial e da luta pelos direitos civis.

Mas a trama não cai no clichê do racismo e nem apela para o melodrama. O foco está nas histórias individuais. A luta de Martin Luther King faz o pano de fundo histórico, enquanto a sociedade americana segregacionista é retratada por meio do relacionamento entre as mulheres brancas e as empregadas negras – que criam os filhos das patroas, mas não podem usar o mesmo banheiro que elas. Que são acusadas de roubo injustamente, que roubam e fazem “tortas especiais” pra se vingar. E que ganham voz quando a recém-formada Skeeter (Emma Stone) retorna à cidade depois de concluir a faculdade e decide ouvir o outro lado. O lado de quem era figurante no lado branco da sociedade.

E é pelo ponto de vista da revolucionária Skeeter que esse lado branco da sociedade é retratado. Mulheres que são criadas para conseguir bons maridos, cuidar da casa e do jardim. Que se engajam em projetos sociais para ajudar crianças africanas famintas, mas que se recusam a dividir a privada com as empregadas. Assim é Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), a responsável por matar de raiva o expectador em diversos momentos do filme. A interpretação de Howard e também de Ahna O'Reilly, que faz a submissa Elizabeth Leefolt, é bem caricata e chega a incomodar no começo do filme, na fase em que o expectador ainda está reconhecendo o território. Mas, nada que o show de Viola Davis, no papel da empregada Aibileen Clark, não seja capaz de ofuscar.



Aibillen é a primeira negra a ter coragem de se relacionar tão intimamente com a jornalista branca e contar o que fica escondido debaixo do tapete das tradicionais residências de Mississipi. Minny Jackson (Octavia Spencer), outra empregada que decide dar seu depoimento, é quem consegue tirar boas risadas do público.

E por mais que o tema seja denso e os relatos comoventes, Histórias Cruzadas tem uma mensagem de esperança. Mostra que a luta de um, pode fazer a diferença num todo.

“Yes, we can!”

Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer.

2 comentários:

  1. Embora o formato do filme não tenha nada de inovador, a inovação está na forma de tratar o tema. "Racismo na década de 60" dá muito espaço para melodrama, como você disse, mas esse filme emociona sem precisar apelar pra trilha sonora triste. Pelo contrário, nos emociona pelo olhar dos atores e nos tira muitas risadas. Interessante também é sentir repugnância contra os defensores do apartheid e, logo depois, perceber o quanto era difícil (para os pretos e para os brancos) contrariar a sociedade. Daí sai a moral da história: o medo, a submissão e a inércia são os ingredientes fatais da conivência com o preconceito. Acho que não ganhará o Oscar de melhor filme (uma pena!), mas com certeza estará na lista dos meus filmes preferidos.

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