sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Boi Neon

 por Carolina Martins



Vencedor de vários prêmios nacionais e internacionais, Boi Neon chegou às salas comerciais de cinema trazendo muita expectativa. O longa de Gabriel Mascaro conta a história de Iremar (Juliano Cazarré), um vaqueiro - na verdade, um curraleiro - apaixonado por costura que sonha em trabalhar com "fabrico de roupa".

Confesso que há tempos um argumento não me interessava tanto. E, como era de se esperar, sim: o filme aborda questões de gênero. Mais que isso. O filme desconstrói estereótipos de gênero.

O tema é pop. Atualmente, discute-se muito sobre o empoderamento da mulher, a militância do feminismo, o combate ao machismo. Ponto para o Mascaro. Sempre é bom abrir mais uma vertente para o debate.

Mas, o que me chamou a atenção foi o fato de o filme (tentar) mostrar como o machismo também prejudica os homens. Um curraleiro, que ganha a vida escovando rabo de boi, pode sonhar em ser estilista? Pode ter talento para desenhar roupa? E isso diz alguma coisa sobre a sexualidade dele?

A responsável por dirigir o caminhão que transporta os bois para as vaquejadas no interior do Nordeste pode ser uma mulher? Ela pode entender de mecânica, gostar do trabalho e ser a dona da caixa de ferramentas? Ser caminhoneira diz alguma coisa sobre a sexualidade dela?

Galega (Maeve Jinkings) é outra afirmação de Mascaro em favor do sistema não-binário de gênero. Ainda nessa linha, tem a Cacá (Alyne Santana) filha de Galega, criada sem pai, no meio da vaquejada, que gosta mais de cavalos do que de bonecas. Porque é na infância que começa a forçação de barra para se encaixar nos estereótipos. 

Os personagens são todos muito interessantes e complexos. Nenhum se revela de cara. Há um mistério, permeado pelo nosso preconceito, que não nos permite definir nenhum deles, não é possível rotular nenhum deles. 

Mais um ponto para Boi Neon. 

E a desconstrução não se dá apenas na questão do gênero. O longa também desconstrói a imagem mais comum que se vende do Nordeste. 

Não é sobre seca, não é no sertão, não é sobre o carnaval da Bahia. O pano de fundo é o pólo de moda nordestino.

Não tem começo, não tem meio e não tem fim. A história acontece ali, cena a cena, o lance é aproveitar o momento sem ficar esperando o próximo take.

Sim, tem cena gratuita de nudez masculina. Gratuita, mais ou menos, né? A cena é justamente para mostrar como o cinema e o público tratam de forma muito diferente os corpos dos homens e das mulheres.

E tem cena de sexo realista também. Em plano sequência. Com uma mulher grávida.

Des.cons.tru.ção.

***

Prêmios

Festival do Rio 2015
Melhor Longa de Ficção eleito pelo Júri Oficial
Melhor Roteiro - Gabriel Mascaro
Melhor Fotografia - Diego Garcia
Melhor Atriz Coadjuvante - Alyne Santana

Festival de Veneza
Prêmio Especial

Festival de Toronto
Menção Honrosa


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Azul é a cor mais quente

por Luiz Noronha
Dirigido por Abdellatif Kechiche, o premiado filme francês conta a história de Adèle (vivida por Adèle Exarchopoulos), uma adolescente prestes a completar 18 anos que leva uma vida igual a de qualquer adolescente.


Escola, conversas sobre meninos com suas amigas de sala, festas e horas de ócio fazem parte da sua rotina. Nesta fase de descobertas, o que Adèle sente e confidencia para seu melhor amigo é, na verdade, um vazio e uma angústia que a incomodam muito.

A partir daí, o que se vê é um caminho rumo a novas experiências. É quando ela conhece Emma (belamente interpretada por Léa Seydoux), uma jovem lésbica, estudante de Belas Artes, de penetrantes olhos azuis. O que esse encontro gera é uma voluptuosa relação cheia de emoção, carinho e força.

O prazer, sem dúvida, é o que liga as duas tanto no sentido de cuidado de uma com a outra como também, claro, no sexo. É exatamente nas cenas de sexo – filmadas de forma visceral e contundente – que vemos a entrega de ambas. Ali, na cama,  troca de olhares, beijos e gemidos se davam de forma livre. Não havia pudor e nem filtro.


O que não se pode negar é que este filme – vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 2013 – apresenta a relação intensa e carnal entre duas jovens em que o mais importante foi a entrega. Se algo pode chocar, é a incapacidade das pessoas de se conectarem umas com as outras e contemplarem uma história sobre um casal que viveu o que queriam, como queriam.

sábado, 10 de março de 2012

Medianeras

por Carolina Martins

Hoje eu li a seguinte conclusão na timeline do meu facebook:

''Meu avô não tinha eletricidade e teve 9 filhos.
Meu pai já tinha TV e ele teve 2.
Agora tenho Facebook e acho que a família termina aqui.''

Pode parecer exagero, mas é mais ou menos assim que caminha a humanidade nesta era tecnológica. E é essa nova realidade que Gustavo Taretto retrata em “Medianeras – Buenos Aires na era do amor virtual”. O filme argentino fala sobre o parodoxal sistema que permite uma quantidade infinita de conexões com pessoas de qualquer parte do planeta mas que ao mesmo tempo isola cada vez mais o ser humano.

No entanto, esse ser cibenético continua tendo as mesmas necessidades do homem de antigamente. Precisa de um companhia, precisa de contato físico, precisa de sexo. É por isso que Mariana (Pilar López) insiste em saber “onde está Wally”, mesmo depois de sair de um longo relacionamento que não deu certo. Após a separação, ela volta a morar sozinha no antigo apartamento e descobre que tem um vizinho pianista. É ele quem faz a trilha sonora da vida dela. Uma sacação feliz de Taretto, que brinca com esse recurso em vários momentos do filme. E dá certo.

Mariana é arquiteta mas, trabalha montando vitrines. E é com os manequins de plástico que ela mantém as relações mais íntimas, dividindo a rotina, o café da manhã e a solidão.

O webdesigner Martin (Javier Drolas) foi abandonado pela namorada. E desde então o cachorro dela e o computador fazem companhia pra ele. Meio hipocondríaco e com síndrome do pânico, levar o melhor amigo para passear e a única coisa que obriga Martin a sair de casa. O resto ele faz pela internet.

Dois vizinhos meio estranhos e solitários que poderiam dividir a bizarrice e a solidão. Mas, eles não se conhecem. Apesar de se cruzarem quase sempre pelas ruas de Buenos Aires. E de conversarem pela internet sem saber quem são.

Um roteiro simples e bem-humorado que trata com leveza problemas que, podem parecer esquisitos, mas que todo mundo tem. Em maior ou menor grau.
E não. Não é piegas.

Por tudo isso “Medianeras” vale a pena. Inclusive para descobrir o que são medianeras.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Guerra está Declarada


por Luiz Noronha

Talvez o que a juventude tenha de melhor é a quase ausência de medo que pode existir em relação ao futuro. Viver o presente é uma espécie de fluxo natural dessa fase da vida na maioria das pessoas. Porém a vida é implacável e ninguém passa incólume por ela.

É esse o ponto de partida dessa intensa história de amor entre Roméo (Jérémie Elkaïm) e Juliette. Um casal que como outro qualquer descobre que terão um filho e que a partir do nascimento dessa criança suas vidas mudariam substancialmente.

Depois de perceberem assimetrias no rosto de Adam, seu filho, e que ele apresentava retardo em andar, Roméo e Juliette decidem levar o menino para fazer exames. Vem a constatação: Adam tem um tumor na cabeça. A vida tinha dado um duro golpe aos dois. Assustados, o casal mobiliza toda a família em busca de tratamentos para a cura de Adam. Quando a vida de um filho está em jogo, nada mais é prioridade.

Por que isso aconteceu conosco? Porque somos capazes de superar isso. 

A diretora francesa Valérie Donzelli (que também interpreta a protagonista Juliette) faz o que muitos cineastas já fizeram e transporta para tela suas experiências pessoais. Ou pelo menos parte delas. Numa mistura de fatos reais e ficção, Donzelli imprime com destreza sua marca na condução da história.

Apesar da história do problema de saúde de Adam comover qualquer pessoa, ao longo dos 100 minutos o que se vê é um filme realista não caindo em um sentimentalismo barato. Ainda que a fácil armadilha de cair em um melodrama, visto o conjunto de elementos que compõe o enredo do filme, é rapidamente afastada por meio da acertada mão da diretora.

Esta brilhante produção francesa impressiona pela simplicidade em se contar uma história que poderia apenas fazer chorar e que vai muito além disso. Na verdade é impossível não pensar em temas como morte, vida e o quanto se pode ser forte em uma situação adversa envolvendo um filho ou uma pessoa próxima. O que fica é a dilaceração do ser humano e a vulnerabilidade de todos. É preciso superar esses obstáculos e ninguém disse que seria fácil. Por isso, a guerra está declarada.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Os fantásticos livros voadores

Este belíssimo curta de animação, vencedor do Oscar 2012, leva o espectador a refletir sobre o significado e valor do livro. The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore é sensível e faz um convite para que todos visitem esse mundo de esperança. Entrar nesse novo lugar é colorir os sentidos.




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O melhor filme é mudo e a música brasileira não agradou


“O Artista” saiu como grande vitorioso do Oscar 2012. Levou cinco das 10 indicações, entre elas a mais importante: melhor filme. Michel Hazanavicius levou para casa a estatueta de melhor diretor e Jean Dujardin voltou pra França com a de melhor ator. Trilha sonora e figurino também foram premiados.  

A produção francesa foi gravada em Los Angeles com um orçamento pequeno, comparado ao das superproduções. Mudo e em preto e branco, Hazanavicius arriscou e faturou. O reconhecimento veio tarde, já que na França, onde foi lançado em outubro do ano passado, o filme não agradou muito não.

No Brasil, “O Artista” chegou este mês, empurrado pelo Oscar. Mesmo assim, em poucas salas de cinema. A tendência é que agora, consagrado, ele se espalhe por aí.
Dujardin é consagrado melhor ator do Oscar 2012

“A invenção de Hugo Cabret” também saiu do Oscar com cinco estatuetas douradas. O filme, que ganhou de “O Artista” em número de indicações - 11 categorias - levou os prêmios de melhores fotografia, direção de arte, mixagem de som, edição de som e efeitos visuais. Basicamente, prêmios técnicos.

Os vencedores

Melhor Filme – O Artista

Melhor Diretor - Michel Hazanavicius, por “O Artista”

Melhor Ator – Jean Dujardin, por “O Artista”

Melhor atriz – Meryl Streep, por “A Dama de Ferro”

Meryl Streep é, sem dúvida alguma, uma excelente atriz. O talento é inconstetável. Mas, Margaret Thatcher existiu, há fonte de inspiração, um protótipo a ser seguido. Já Viola Davis criou uma personagem e emocionou em “Histórias Cruzadas” e a Academia do Sempre Teremos Cinema dá o Oscar de melhor atriz pra ela, pela emocionante
Aibileen Clark!
Curiosidade:
Quando ganhou seu primeiro Oscar, em 1983, Meryl Streep também vestia dourado. O relevante mesmo é quem entregou a estatueta:


Teria Stallone faturado o Oscar de melhor ator no ano anterior? Nããããão!




Melhor ator coadjuvante: Christopher Plummer, por  "Toda forma de amor”

Melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer, por "Histórias cruzadas"

Melhor roteiro original: Woody Allen, por “Meia Noite em Paris”

Melhor roteiro adaptado: Os Descendentes

Melhor trilha sonora original: O Artista

Melhor canção original: Man or Muppet, de “Os Muppets”



Não deu pra Carlinhos Brown e Sergio Mendes. A música Real in Rio, do filme  “Rio”, representava o Brasil no Oscar 2012 e perdeu. Mas, é provável que Carlinhos Brown já esperasse isso, já que foi feito um acordo no início do mês, durante a greve da Polícia Militar na Bahia.

Melhor figurino: O Artista

Melhor Filme Estrangeiro: A Separação

Melhor Animação: Rango

Melhor Edição: Os Homens que não Amava as Mulheres

Melhor Edição de Som: A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Mixagem de Som: A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Efeito Visual:  A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Direção de Arte: A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Fotografia: A Invenção de Hugo Cabret

Melhor Maquiagem: A Dama de Ferro

Melhor Curta-Metragem: The Shore

Melhor Curta-Metragem de Animação: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

Melhor Documentário (curta-metragem): Saving Face

Melhor Documentário (longa-metragem): Undefeated

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cavalo de Guerra

por Carolina Martins

São 146 minutos de uma história sobre um cavalo especial. Sim, porque só sendo muito especial para atravessar a Primeira Guerra Mundial, sobreviver e reencontrar o primeiro dono no final. Não, eu não contei o fim do filme. O que está escrito até aqui é totalmente previsível.

Steven Spielberg é o diretor dessa produção que emociona quem gosta de cavalos. Quem tem afeição por animais vê ternura na relação entre Albert (Jeremy Irvine) e o cavalo Joey, que é adestrado por ele desde potro. Mas, eles se separam quando a guerra explode na Inglaterra, em 1914, e Joey vai para infantaria. A partir de então, Albert vive para esperar o cavalo. E o cavalo só encontra pessoas legais e apaixonadas por animais no caminho, o que facilita a sobrevivência dele na batalha.

O que incomoda é que o filme é cheio de “até parece!”. E olha que cavalo é um dos meus animais preferidos. Mas a sensibilidade não te envolve a ponto de você ignorar as várias forçadas de barra que tiram o filme do campo da realidade. Sim, em vários momentos você sente compaixão e até se emociona com o sofrimento dos bichos numa guerra. Mas, né?! É uma guerra, as pessoas não se importam nem com a vida humana no entanto, Joey só encontra os defensores dos animais.  

Ok, não é um filme sobre guerra. A batalha é só o pano de fundo. O filme é sobre cavalos. Mas é aquela coisa do “até parece!” que a todo momento você se pega questionando.

A cena na qual dois soldados de exércitos rivais se unem e ignoram as diferenças para salvar Joey, que está preso no meio do fogo cruzado entre as duas trincheiras inimigas, gera uma reflexão sobre a falta de sentido de uma guerra. Pessoas se matando por um motivo que a maioria delas esquece depois do terceiro tiro. É uma cena bonita. Mas, até parece!

Não é um filme histórico. É um filme sobre a amizade entre homens e animais. Quem gosta, gosta.

Seis indicações ao Oscar
*Melhor filme
*Melhor trilha sonora original
*Melhor fotografia
*Melhor direção de arte
*Melhor edição de som
*Melhor mixagem de som

Tão Forte e Tão Perto


por Luiz Noronha

A tragédia do 11 de setembro em Nova Iorque foi um evento que abalou o mundo. A queda das Torres Gêmeas também trará um impacto na vida de uma família. Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto de 11 anos que perde seu pai, Thomas Schell (Tom Hanks), no maior atentado terrorista que já ocorreu nos EUA. Sem saber como lidar com a perda do pai, Oskar se distancia da mãe Linda Schell (Sandra Bullock) e cria seus próprios mecanismos de defesa.

Na tentativa de deixar viva a memória de seu amoroso pai, ao encontrar um envelope onde estava escrito um sobrenome e que continha uma chave, Oskar sai em busca de achar a fechadura dessa chave.

Essa comovente produção dirigida por Stephen Daldry (Billy Eliott, As Horas e O Leitor) pode ser acusada de exagerar nas emoções descarregadas por Oskar. Nada mais compreensível, pois qual criança conseguiria parecer minimamente centrada com uma perda que tem um enorme significado e que lhe causa tamanha dor? Com suas manias, Oskar é um menino inteligente e que por vezes se mostra agressivo, não tendo sensibilidade em relação ao sofrimento que a mãe sente tanto pela perda do marido, como pelo jeito de agir do filho.

Nessa jornada em busca de uma fechadura que desvende o mistério da chave, Oskar encontra vários personagens que como ele tem seus dramas pessoais. Uma dessas personagens é Abby Black – interpretada por Vila Davis, em uma especial participação – que o ajuda nessa procura.

O novato, mas talentoso, Thomas Horn dando vida a um menino que pode parecer mimado e ao mesmo tempo incompreendido, rouba a cena no filme e de uma maneira ou outra ele conquista o espectador. E olha que o elenco tem Tom Hanks e Sandra Bullock. Sem sombra de dúvida, é a extraordinária atuação do ator sueco Max von Sydow (famoso por aparecer em filmes de Ingmar Bergman) – como o inquilino da avó de Oskar e que passa a ser seu mais novo companheiro nessa empreitada – que mostra que mesmo sem dizer uma só palavra, consegue transmitir uma intensa emoção em gestos simples, dando uma carga dramática precisa à história.

O que permeia os 129 minutos de filme é um sentimentalismo por vezes forçado e um excesso de explicações em off desnecessárias. Stephen Daldry ainda consegue engrandecer a dor de um menino e que apesar de comovente, a falta de uma narrativa mais enxuta prejudica o andamento da história. Mesmo assim, o filme emociona.

Duas indicãções ao Oscar
*Melhor filme
*Melhor ator coadjuvante - Max Von Sydow

O Homem que Mudou o Jogo


por Luiz Noronha

O beisebol é o esporte que conduz essa produção que tem Bennett Miller na direção. Certamente esse não é o esporte mais popular no Brasil, mas ao contrário do que os críticos norte-americanos dizem, essa é sim uma história sobre beisebol.

Um modesto time de beisebol de Oakland surpreende a liga de beisebol norte-americana (MLB, sigla em inglês) ao bater o recorde de vitórias consecutivas. Esse feito só é possível depois que o diretor geral do time, Billy Beane (Brad Pitt), decide inovar na forma de contratar seus jogadores fazendo uso de uma complexa teoria que alia fórmulas matemáticas a característica de cada jogador.

Ao longo de todo o filme, o diretor Billy – que quando jovem foi apontado por olheiros como uma promessa do beisebol – busca uma maneira eficiente de montar um time e vê no jovem Peter Brand (Jonah Hill) um parceiro para concretizar esse desejo.

O diretor Bennett Miller até tenta extrapolar a discussão que seu filme pode levar, porém o que fica mesmo é que para se vencer e mudar o velho modelo de operação, tem que ter uma liderança forte que acredita em suas ideias, além de envolvimento e espírito em equipe. Nenhuma “lição” a mais.

Ao longo de mais de duas horas de filme, num ritmo pastoso que se não tomar cuidado corre-se facilmente o risco de cochilar, a boa atuação de Jonah Hill surpreende. Apesar do roteiro ser interessante, o filme não consegue causar empatia. E fica o lembrete de não dormir na sessão.

Seis indicações ao Oscar
*Melhor filme
*Melhor ator - Brad Pitt
*Melhor ator coadjuvante - Jonah Hill
*Melhor edição
*Melhor mixagem de som
*Melhor roteiro adaptado

Meia Noite em Paris

por Carolina Martins

Paris durante o dia. Paris ao entardecer. Paris na chuva. Paris à noite.

São cerca de três minutos de um passeio pelas ruas da Cidade Luz, passando pelos conhecidíssimos pontos turísticos e também pelas vielas da capital francesa, ao som de uma trilha que vai ficar na sua cabeça por um bom tempo.


É assim que começa “Meia Noite em Paris”. Woody Allen resolveu apresentar a cidade antes, caso alguém ainda não fosse suficientemente encantado pelo lugar. Ou, mesmo que continuasse indiferente, que pelo menos entendesse o encantamento de Gil Pender (Owen Wilson) – um escritor americano que largou os roteiros rasos de Hollywood com o intuito de escrever um romance profundo. Gil está em Paris com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os sogros, que não fazem questão de esconder o desapontamento com o escolhido da filha. E em Paris, Gil também começa a se perguntar se deveria realmente se casar com alguém com prioridades tão diferentes. Gil na verdade começa a se perguntar sobre o sentido da vida. Tudo isso com ajuda de Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Scott Fitzgerald e outros “colegas” da geração perdida da década de 1920.

Mas não, não é um filme de época. A história se passa em 2010.




Uma viagem, à meia noite, à Paris do início do século XX pode mudar a vida de qualquer um. Afinal, você pode se apaixonar pela amante de Pablo Picasso e descobrir que seu noivado não tem muita coerência. Como aconteceu com Gil.




O presente é assim. Um pouco insatisfatório porque a vida é um pouco insatisfatória

Mesmo em Paris, fugir do presente não resolve tudo. Mas, permite epifanias. Inclusive pra quem só assiste. Até porque, se deliciar com os vestidinhos dos anos 20, as pinturas de Monet, as esculturas de Rodin e os bastidores da vida íntima dos figurões da geração perdida já vale a pena.

Os mais racionais podem reclamar da viagem de Woody Allen e buscar uma explicação lógica para o filme. Mas, nem tudo precisa fazer sentido. Se fizesse, não seria Woody Allen. E a graça está em buscar um alternativa para essa falta de sentido. Gertrude Stein, inclusive, dá essa dica pros espectadores. Cada um que construa a sua própria lógica.
Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Artista

por Carolina Martins
É mudo. É em preto e branco. E é lindo.

“O Artista” é a produção mais inusitada dos últimos anos. Numa era na qual clássicos antigos estão sendo relançados em 3D, Michel Hazanavicius abriu mão de toda tecnologia avançada e, com uma metalinguagem emocionante, falou da Era Muda do cinema. Sem falar.


George Valentin (Jean Dujardin) é um ator de cinema mudo no auge da carreira, na década de 1920, que se vê naufragando com a chegada dos filmes falados. Já  Peppy Miller (Bérénice Bejo) é uma fã, que se torna amiga de George, se beneficia da novidade de Hollywood e vira uma estrela “falante” do cinema.

Para narrar a trajetória da sétima arte num filme mudo foram necessárias muitas metáforas. E muita sensibilidade para explorar todos os outros recursos que se tornam essenciais sem as vozes dos atores. Como por exemplo a capacidade de atuar.

Dujardin te conquista no primeiro olhar. As expressões faciais de um ator do século XXI, famoso na França mas ainda desconhecido mundialmente, te convencem que ele é na verdade um ator do início do século XX, que sentiu o gosto do sucesso e agora é obrigado a leiloar todos os bens porque não se adaptou às novidades tecnológicas da época e perdeu o emprego.  Bérénice Bejo não fica atrás. Olhos e sorriso marcantes refletem todas as emoções sem palavras. E sem caricaturas.

A trilha sonora é um capítulo à parte. Está presente, se impõe, compõe. E é linda.
O roteiro é tão delicado, as relações entre as personagens são tão ternas que, mais de uma vez, é possível se emocionar. O cachorro de George, fiel companheiro do ator, é responsável por muitos momentos que arracam lágrimas e também sorrisos do espectador - se houvesse um prêmio para melhor ator na categoria animais, ele seria hour concour. A dedicação sincera do motorista de George (James Cromwell) também emociona.

Para geração acostumada ao modelo enlatado de Hollywood, assistir um filme mudo e em preto e branco pode parecer um desafio. Mas a experiência é super válida pra quem estiver disposto a se entregar à trama. Até o comportamento das pessoas na sala de cinema é diferente. Você ouve cada suspiro, cada riso dos espectadores. Você ouve até o som do filme que está passando na sala vizinha, nos momentos de silêncio absoluto.

Não é só pela proposta de voltar aos velhos tempos que “O artista” se destaca. O diretor soube utilizar os recursos para construir uma história redondinha e, de quebra, homenagear o cinema.

E uma apaixonada por sapateado, como eu, pode lamentar não ouvir o som das chapinhas nas cenas da dança. Mas, sempre há supresas no final!

Vencedor de cinco Oscars
*Melhor filme
*Melhor ator – Jean Dujardin
*Melhor diretor - Michel Hazanavicius
*Melhor trilha sonora original
*Melhor figurino

O Sempre Teremos Cinema adverte: a pessoa que escreveu esse texto é completamente fascinada pela Era Muda do cinema e por isso é visível o encantamento e a predilação pelo filme em questão.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Árvore da Vida


por Luiz Noronha

Ambientado no Texas, o filme do cultuado diretor Terrence Malick certamente te fará pensar. E muito! Pode ser que ele te faça pensar na existência humana, na dor da perda, nos rumos que a vida pode te levar, no lanche que você vai comer depois do filme, nas tarefas rotineiras que esqueceu de fazer e até mesmo, por mais surpreendente que parece, leve a questionar se o filme que você está assistindo é realmente aquele que foi proposto.

Mesmo com um elenco de peso, Sean Penn e Brad Pitt, Árvore da Vida tem uma narrativa cansativa que conta a história de uma família que tem um pai (Brad Pitt) duro com a educação dos filhos, uma mãe carinhosa e angelical e dois filhos com personalidades singulares.

Confesso ter me esforçado para tentar tirar algo de profundo do filme, mas tudo me levou a crer que Malick, na tentativa de inovar na forma de desenvolver o filme, pareceu se perder no meio do caminho numa mistura de filme experimentalista e existencialista.

Ajude um ao outro. Ame a todos. Cada folha. Cada raio de luz. Perdoe.

Ao longo de 138 minutos em meio a essa loucura enfadonha que Malick propõe ao seu espectador, uma coisa que se salva no filme são as belas imagens que fazem referência a todo tipo de vida existente na Terra – desde o ser humano, passando pelas plantas e chegando ao ponto de colocar dinossauros (?!) na tela – dando ideia de um filme contemplativo. 


De fato não gostei nem um pouco do que vi e já fui acusado de insensível por isso. Com uma pretensão tamanha, Malick conseguiu fazer um filme controverso que apesar da chuva de críticas negativas que recebeu, emplacou a indicação ao Oscar 2012 de melhor filme. Talvez precisasse de mais sensibilidade, insanidade ou uma substância qualquer para que esse intragável filme se tornasse mais palatável. Quem sabe.

Duas indicações ao Oscar
*Melhor filme
*Melhor fotografia

A invenção de Hugo Cabret

por Carolina Martins





Quem gosta de cinema e se interessa pelo menos um pouquinho sobre a história da sétima arte tem que assistir “A invenção de Hugo Cabret”- que está longe de ser um filme infantil. Martin Scorsese usou e abusou da metalinguagem para narrar a trajetória do cinema. Da primeira exibição dos irmãos Lumière à fantasia e ilusionismo do francês Georges Méliès, o inventor dos efeitos especiais. E é usando a maior novidade dos efeitos especiais, a filmagem em três dimensões, que Scorsese usa Hugo (Asa Butterfield – de “O menino do pijama listrado”) para falar de cinema no cinema.

Órfão, Hugo vive em uma estação de trem na cidade de Paris, no início do século XX. Mesmo depois da morte do pai, ele continua empenhado no projeto que os dois tinham juntos: consertar um autômato.

No começo, o filme assusta com uma narrativa lenta que chega a entediar. A primeira sensação é de que serão longos 126 minutos de um menino vivendo sozinho, movido por encontrar a chave que aciona o mecanismo do boneco que representa a ligação entre ele o pai morto.


Mas, quando você menos espera, já está na pele de Hugo, fugindo com ele do policial inspetor que aterroriza as criancinhas (Sacha Baron Cohen – de “Borat”),  torcendo pela amizade dele com Isabelle (Chloe Moretz)  e querendo que ele descubra, e te explique, porque o autômato perturba tanto o senhor ranzinza, dono da loja de brinquedos da estação de trem, Pappa George (Ben Kingsley).

As máquinas nunca têm peças sobrando. Elas têm o número e o tipo exato de peças que precisam. Então, eu imagino que, se o mundo inteiro é uma grande máquina, eu devo estar aqui por algum motivo. E isso quer dizer que você também deve estar aqui por algum motivo


Mais do que um filme sobre filmes, “A invenção de Hugo Cabret” também discute, de uma maneira bem sensível, a suposta missão que cada um tem no mundo. Um tema denso, motivo de crises existenciais muito conhecidas do mundo adulto, mas que, definitivamente, não faz parte do universo das crianças.

O que encanta crianças – e adultos também – são as imagens. Eu nunca vi um filme “tão 3D” na minha vida. De fato, terceira dimensão. E os efeitos não são apenas adereços, compõem a trama também. Vale à pena pagar um pouquinho mais para pode usar os óculos.

A trilha é genuína e presente. É escutar para lembrar da França. Cumpre a função de ambientar o expectador e de sugerir o que ele deveria estar sentindo.
Ah! E Scorsese faz uma participação no filme. Afinal, é cinema no cinema.

Vencedor de cinco Oscars
*Melhor direção de arte
*Melhor fotografia
*Melhor edição de som
*Melhor mixagem de som
*Melhor efeito visual

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tudo pelo poder

por Carolina Martins

O quarto filme da carreira de diretor do galã hollywoodiano George Clooney aborda um tema atual e que influencia decisões no mundo todo: as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Tendo a seu favor o calendário da disputa americana, que já iniciou as primárias para eleger o concorrente de Barack Obama pelo partido Republicano, “Tudo pelo poder” tem a pretensão de mostrar um pouco de tudo o que está envolvido em uma campanha eleitoral: interesses pessoais, dinheiro e a busca pelo apoio tanto dos apartidários como da imprensa.  Tudo isso em meio a muitos conflitos éticos do jogo político que envolvem o espectador do início ao fim.
A ousadia  de Clooney está em lançar um filme que faz claras alusões ao presidente que vai tentar a reeleição numa época em que os EUA respiram campanha eleitoral. No filme, Mike Morrys (Clooney) é um governador em campanha para vencer as primárias do Democratas – mesmo partido de Obama – e disputar as eleições presidenciais. A trama é centrada no talentoso diretor de comunicação Stephen Myers, interpretado por Ryan Gosling. Idealista, Myers entra de cabeça na campanha de Morris acreditando que ele é a salvação para o país – outra forte alusão ao sentimento do eleitor que apostou todas as fichas em Obama.
No entanto Myers descobre que política é um jogo pra gente grande, onde idealismo e ética são conceitos sempre testados durante a campanha eleitoral. E que nem sempre o candidato é o que parece ser – fazendo referência a decepção dos americanos com o atual governo . Clooney, como diretor, quer mostrar a sujeira escondida debaixo do tapete. E participar dos dilemas de Myers leva o espectador a fazer a perigosa pergunta “e se fosse eu?”
Tecnicamente falando, nenhuma interpretação surpreende. Mas Ryan Gosling, o eterno Noah de “Diário de uma paixão”, se sai bem em cenas que exigem mais que um olhar apaixonado.
O roteiro, apesar de ter um tema quase clichê, é inteligente e muito bem construído para envolver o espectador.  Pra quem gosta de política, de falar mal de políticos, de fofocas de bastidores ou do George Clooney, “Tudo pelo poder” é uma boa pedida.

Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro


por Luiz Noronha

A imagem de uma senhora com mais de 80 anos sofrendo de Alzheimer, padecendo de alucinações constantes, nem de longe lembra a indômita Margaret Thatcher que foi chefe do governo do Reino Unido por mais de 11 anos.

Com uma narrativa errática e que muitas vezes não deixa claro os acontecimentos históricos apresentados, o filme dirigido por Phyllida Lloyd (Mamma Mia!) se mostra fraco diante da importância do período em que Thatcher tomou importantes decisões.

A maneira dura como a ex-primeira-ministra negociou com os sindicados, como conduziu o processo de privatização das empresas estatais ineficientes, como lidou com a crise do petróleo no fim da década de 1970, foram fatos que passaram praticamente despercebidos. Já a guerra travada pela Grã-Bretanha contra a Argentina por causa das Malvinas (que os britânicos chamam de Falklands), recebeu um destaque significativo na fita, sendo esse um evento que levantou a popularidade de Thatcher.

A sóbria e consistente atuação de Meryl Streep sobre a controversa “dama de ferro” – que recebeu esse apelido dos soviéticos – traz uma Thatcher implacável enquanto primeira-ministra e frágil, já com idade avançada. A surpresa do filme fica por conta do veterano ator Jim Broadbent, que dá vida ao irreverente e bem humorado Denis, marido de Thatcher. A dupla funciona muito bem.


A tentativa de humanizar a poderosa Margaret Thatcher, esbarrou no fato de que a emblemática ex-primeira-ministra nunca usufruiu de carisma e empatia. Mesmo com uma maquiagem bem feita (o que ajudou na caracterização especialmente de Meryl Streep) e a dureza que a velhice pode representar, o filme não chegou a me emocionar. Talvez seja o reflexo das lacunas deixadas ao longo de mais de 100 minutos.

Vencedor de dois Oscars
*Melhor Atriz - Meryl Streep
*Melhor Maquiagem