sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Boi Neon

 por Carolina Martins



Vencedor de vários prêmios nacionais e internacionais, Boi Neon chegou às salas comerciais de cinema trazendo muita expectativa. O longa de Gabriel Mascaro conta a história de Iremar (Juliano Cazarré), um vaqueiro - na verdade, um curraleiro - apaixonado por costura que sonha em trabalhar com "fabrico de roupa".

Confesso que há tempos um argumento não me interessava tanto. E, como era de se esperar, sim: o filme aborda questões de gênero. Mais que isso. O filme desconstrói estereótipos de gênero.

O tema é pop. Atualmente, discute-se muito sobre o empoderamento da mulher, a militância do feminismo, o combate ao machismo. Ponto para o Mascaro. Sempre é bom abrir mais uma vertente para o debate.

Mas, o que me chamou a atenção foi o fato de o filme (tentar) mostrar como o machismo também prejudica os homens. Um curraleiro, que ganha a vida escovando rabo de boi, pode sonhar em ser estilista? Pode ter talento para desenhar roupa? E isso diz alguma coisa sobre a sexualidade dele?

A responsável por dirigir o caminhão que transporta os bois para as vaquejadas no interior do Nordeste pode ser uma mulher? Ela pode entender de mecânica, gostar do trabalho e ser a dona da caixa de ferramentas? Ser caminhoneira diz alguma coisa sobre a sexualidade dela?

Galega (Maeve Jinkings) é outra afirmação de Mascaro em favor do sistema não-binário de gênero. Ainda nessa linha, tem a Cacá (Alyne Santana) filha de Galega, criada sem pai, no meio da vaquejada, que gosta mais de cavalos do que de bonecas. Porque é na infância que começa a forçação de barra para se encaixar nos estereótipos. 

Os personagens são todos muito interessantes e complexos. Nenhum se revela de cara. Há um mistério, permeado pelo nosso preconceito, que não nos permite definir nenhum deles, não é possível rotular nenhum deles. 

Mais um ponto para Boi Neon. 

E a desconstrução não se dá apenas na questão do gênero. O longa também desconstrói a imagem mais comum que se vende do Nordeste. 

Não é sobre seca, não é no sertão, não é sobre o carnaval da Bahia. O pano de fundo é o pólo de moda nordestino.

Não tem começo, não tem meio e não tem fim. A história acontece ali, cena a cena, o lance é aproveitar o momento sem ficar esperando o próximo take.

Sim, tem cena gratuita de nudez masculina. Gratuita, mais ou menos, né? A cena é justamente para mostrar como o cinema e o público tratam de forma muito diferente os corpos dos homens e das mulheres.

E tem cena de sexo realista também. Em plano sequência. Com uma mulher grávida.

Des.cons.tru.ção.

***

Prêmios

Festival do Rio 2015
Melhor Longa de Ficção eleito pelo Júri Oficial
Melhor Roteiro - Gabriel Mascaro
Melhor Fotografia - Diego Garcia
Melhor Atriz Coadjuvante - Alyne Santana

Festival de Veneza
Prêmio Especial

Festival de Toronto
Menção Honrosa


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